Nós

Um descuido que se dê e o laço está feito. E depois do laço, vêm os nós. E quando mais se estreitam os laços, mais o nós parece indissolúvel. E assim nossas vidas se dissolvem mornas e plásticas e frágeis.

A linha da minha mão termina onde começa a sua? Já não sei, pois as vidas vêm sido tecidas em nós – coloridos. As fronteiras parecem não existir, conforme os nós vão sendo feitos.

E se em outra situação qualquer, os nós poderiam significar um problema, agora me vejo feliz por não saber como desfazê-los – ainda que às vezes nos possam servir de amarras.

Com os nós, lanço meu navio ao mar, teço o manto mais quente, arrumo-lhe a gravata. Uma vez que um laço é feito, o nós é uma certeza. E assim não consigo deixar que ninguém saia da minha vida.

O nós parece imperar num mar de constância, dentro do caos em que às vezes parecemos submergir. E são esses laços que nos resgatam quando somos lançados à correnteza.

Comentários

Pablo Hajnal disse…
La Dificultad (a dificuldade)
www.pablohajnal.blogspot.com
biel madeira disse…
mais uma vez, inc´rivel. o lance do laço e do nós, sem dúvida muito brilhante!
me lembrou um fragmento de poema do wally salomão:
"(...)entre o meu ser
e o ser alheio
a linha
de fronteira
se rompeu."

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