Era uma vez a deturpação de um conto de fadas qualquer [1]
O belo Príncipe estava sentado em um barco emprestado. Observava sua amada, seus longos cabelos presos com um pente de pérolas, as escamas da cauda cintilavam ao sol. Queria tê-la mais perto, mas ela insistia em continuar repousando sobre as pedras úmidas no meio do mar.
- Por que você faz isso? - perguntou ele, magoado.
- Isso o quê? - perguntou ela sem entender.
- Se mantém longe de mim! - explicitou ele.
- Ah...
Seu "ah" era doce e arrastado. Escorregou das pedras e nadou até seu amado, se apoiando no barco.
- Por que você faz isso? - quis saber ele, tocando-lhe de leve o rosto.
- Isso o quê? - ela sorriu.
- Me mantém na sua superfície. Não conheço as profundezas do seu ser. Não sei o que se passa dentro de você, no seu íntimo, na sua mente, no seu coração. O que eu tenho de você é tão pouco! - entristeceu-se ele.
- Ah é? - perguntou ela com doçura.
Num piscar de olhos - maliciosos - , ela puxou-o do barco para as profundezas. O corpo silenciou-se num splash. Com ou sem entrega? Não saberia dizer. Só sei que o belo Príncipe nunca mais foi visto.
Se ele tivesse conseguido enxergar além da superfície de sua amada, talvez tivesse visto.
Comentários