Sobre despedidas incompletas

Ela tem uns quarenta e poucos anos. É casada e tem dois filhos já criados. Veio de Minas assim que casou e, depois, acabou voltando poucas vezes para ver a família. Poucas vezes. Os filhos, o marido, o trabalho, a vida. Tudo chama. Criou raízes em São Paulo e voltou poucas vezes para casa. Casa? Sua casa agora era São Paulo, zona sul da cidade, numa casinha simples, bonita e aconchegante na periferia.

Foi um baque quando recebeu a notícia da morte do pai, em 26 de dezembro. Logo após o Natal. A mãe tinha vindo à São Paulo, então ele tinha morrido sozinho. Ia voltar para Minas. Fizeram as malas e foram s'imbora.

Ela não chorou no enterro, mas ficou impressionada como o pai tinha a cabeça branquinha. Não tinha visto seus cabelos ficarem brancos. Não chorou. Voltou para São Paulo. A vida continua, não? A vida seguia, implacável. os filhos, o marido, o trabalho, a vida. As raízes fincadas em outro lugar.

Um dia, ela subia a Brigadeiro, a caminho do serviço, dentro de um ônibus. E um outro ônibus parou ao lado. Lá, ela avistou um senhorzinho de cabelos brancos. Então, chorou.

Ouvindo Once upon a time (Air)


Comentários

Lego4ster disse…
Acho que você não devia abordar esse tipo de tema não que eu seja uma pessoa sensível mas olha só caiu um cisco aqui no meu olho e quem diria caiu outro e olha só acabaram os lenços...

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