Sobre envelhecer e outras coisas
Vi que sua pele estava um pouco áspera perto de um dos olhos
e peguei um hidratante. Conforme ia passando-o com cuidado pelo rosto magro de
pele fina, cheia de rugas, pensava nos sentidos do envelhecer. Também pensava em
minha avó, em minha mãe. Em mim mesma.
Ninguém nos prepara para envelhecer, talvez porque seja uma
daquelas experiências pelas quais temos que passar e fim. Tem coisas que posso
te falar, coisas pelas quais já passei, mas não é a mesma coisa do que a sua própria
vivência. Envelhecer deve ser uma dessas coisas.
Não digo nem pela vaidade, afinal, é feio ser velho. Pelo menos
é o que nossa sociedade vende. Talvez ninguém nos prepare para isso porque ainda
hoje, mesmo que algumas questões tenham melhorado, sinto que ainda se evita
falar da velhice, como se ela fosse doença ou fosse contagiosa.
Digo tudo isso pelo receio de ter a cabeça lúcida e o corpo
doente. Ou o corpo bom e a cabeça ruim. Bom, aparentemente, o que dá para fazer
agora é cuidar de corpo e cabeça, coisa com a qual já venho me preocupando há
algum tempo.
Mas fica sempre o mistério: como as coisas vão ser? E
pergunto isso sem ansiedade, muito mais como quem procura uma pista perdida
vindo do futuro, como um lenço esquecido sobre a mesa.
Terminei de passar o hidratante e olhei seu cabelo bem
branquinho. Tão bonito. Ela ainda tão bonita. As rugas que são a sua história, li algo assim e achei tão bonito. Tão
importante quanto ter essa velhice cuja imagem trago na cabeça é saber que as rugas
do meu rosto serão as de uma história bonita de vida. E que a todo e cada
momento possamos celebrar a vida, não importa se velha, menina ou moça.
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