Tira o olho desse corpo que me pertence!

A liberdade está no cabelo que você decide deixar livre - no vermelho furioso, nos cachos lascivos, no volume apaixonado. No esmalte fúcsia ou na sua ausência - ou na de qualquer outro esmalte. Na cara lavada, o rosto lindo com seus poros, pintas, pequenas imperfeições que vejo com perfeição, mas também como perfeição.

Por que amar menos o meu corpo? Este corpo que aguenta e sustenta e suporta?

Uma amiga querida me disse:

- Seu corpo é o seu templo.

E é isso! Meu templo. É preciso aprender a amar o próprio corpo, seus contornos, pêlos, volumes e ausências. Pensa em quanta energia é gasta cultivando a insatisfação com a própria aparência. É difícil as pessoas se aceitarem... Conheço mulheres super esclarecidas que lutam com o espelho por se colocarem níveis que simplesmente... Ah.

Não é uma questão de resignação, mas de amor mesmo.

Uma vez me disseram que era fácil eu dizer essas coisas porque eu era bonita. Sou uma pessoa de aparência comum e, de qualquer modo, o jeito como a gente se sente em relação a própria aparência, por vezes, tem mais a ver com o que temos por dentro do que por fora.

São as neuras que carregamos dentro de nós que interferem no que tem por fora. Legal, né? Então, talvez o negócio não seja operar os seios, mas o cérebro. É isso? Nah. Isso é ser radical e radicalismo não cola pra mim: torço o nariz e sorrio amarelo-descontentamento. Cada um sabe de si, certo? Mas enlouqueço quando vejo as mulheres enlouquecendo por causa da balança.

A gente cresce em meio a lavagem cerebral sobre o que é ser feminina, o que é ser mulhe. E, a despeito dos avanços, a construção de gêneros ainda é muito cruel. Ainda tem uma uma checklist que você precisa cumprir para ser aceita. Você precisa ter uma série atributos para ser mulher, ser feminina.

A campanha publicitária de uma determinada margarina cai como uma luva em toda essa discussão. Ao mesmo tempo que coloca todas as mulheres no "mesmo barco" na questão da preocupação com o peso (e em mantê-lo), mostra como as mulheres podem se sentir aliviadas ao constatar que as celebridades também engordam, envelhecem, tem pele de "reles mortal" etc. É um alívio ver que o outro tem defeitos porque isso nos aproxima dele, daquela famosa cujo cabelo não acorda como capa de revista. Esse alívio também é triste, porque a gente não deveria precisar dele.

Eu devia ter o direito de pintar, cortar e fazer o que eu quisesse com meu cabelo e assim por diante. Mas... Ei... Não é que eu tenho?! Assim como tenho o direito de engordar e, inevitavelmente, o de envelhecer.

Claro que tem que ver algumas questões de ordem prática como, por exemplo, o impacto de tudo isso no emprego (eu de cabelo rosa pink, por exemplo, poderia ser meio complicado), mas, mesmo assim, quantas não são as coisas que temos vontade de ser e fazer deixadas de lado porque...

- As pessoas podem pensar coisas...

O fato é que, inevitavelmente, seremos julgados por qualquer coisa que a gente seja ou faça. Ponto.

Se você é gorda, tem problemas. Se você é magra, tem problemas. E se eu escolher simplesmente ser feliz? Do jeito que sou mesmo sabe? Isso soa quase criminoso no nosso momento histórico de culto ao corpo.

Será que ser feliz como se é machuca tanto os outros? Será que o fato de sermos felizes como somos incomoda tanto assim?

Então tenho o direito de incomodar.

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