Onde mora o desejo

Ela parecia interessante. Os cabelos (longos?) presos num coque bem no alto da cabeça. A nuca ficava à mostra. Belo pescoço. O pescoço e todo o resto. A moça tinha um corpo bonito, arredondado e de pele (macia?) morena jambo.

Zeca olhava a moça de lingerie preta com grande atenção.

E ficou preocupado com aquela ousadia de ela estar ali assim, só de lingerie preta. De renda ainda! Ai ai ai... Mil coisas de passaram por sua cabeça, coisas que não comentaria com sua mãe ou com sua irmã. Era ousadia mesmo uma moça tão bonita numa lingerie tão rendada ficar desse jeito, se exibindo, como se ninguém estivesse olhando.

E Zeca olhava, que mais poderia fazer se não olhar o que estava ali, bem na sua frente, como se ele não estivesse lá?

Talvez devesse chamar a polícia para prendê-la por atentado ao pudor. Afinal, onde ela achava que estava? Tão a vontade, tão leve, tão ensimesmada, como se ninguém a estivesse olhando...

Divagava... O olhar perdido na moça bonita.

De repente, o telefone toca. Zeca larga os binóculos e vai atender. Com pesar, deixa a vizinha com sua lingerie preta no apartamento ao lado, para que ela possa continuar a ignorar aquela existência doída, pequena e abafada

Era no apartamento ao lado ou dentro de Zeca que o desejo morava?

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