Paulinho
A moça está esperando o ônibus. Não é feia, mas também não é bonita. - embora julgue (secretamente) ser bonita a sua própria maneira. Mas isso nem lhe importa muito. Sempre muito discreta e educada. "Mas será que essa garoa não cessa?". Ela sente as meias finas úmidas.
É sexta-feira e ela está cansada em seus saltos altos tec tec tec e a bolsa pesadíssima - uma alça arrebentou - e a garganta sem voz, embora a vontade de cantar seja grande e o fim de semana esteja aí. Quer tirar os sapatos e livrar-se do peso da bolsa. Coloca-a no chão, mas o peso sobre seu ombro - direito - permanece. Na verdade, o peso parece recair sobre seus dois ombros. Talvez só precisasse de um dia de descanso ou de uma mudança de ares.
Ela sorri debaixo da garoa fina. Em outros tempos, aquilo lhe teria devorado e ela estaria entristecida e tingida pelos mais diversos matizes de cinza. Mas a vida é outra agora. Pensa em Paulinho e seu convite inocente:
- Quer que eu massageie seus pés?
E ela aquela cara de exclamação. Diz-lhe qualquer coisa e ele insiste:
- E que tal uma massagem nas costas? Sei fazer uma massagem muito boa! - ele vai se aproximando.
Ela pede que ele vá fazer qualquer coisa e se afasta, arisca. Mas quando está sozinha, ri. Ri porque enxerga em Paulinho a sua adolescência não tão distante. Ri do seu sorriso de menino de 12 anos. Porque Paulinho só tem 12 anos. E, sempre que a vê, é todo sorrisos e atenção e bombons e agrados. E ela acha graça porque, em parte, ele parece saber muito mais do que dezenas que homens da sua idade. Ou então, saber tão pouco quanto eles:
- Professora, por que as mulheres são tão complicadas?
Ela, interrogação e exclamação, pergunta:
- Como assim Paulinho?
- Ah, não sei. As mulheres parecem ser de uma outra raça. Não entendo elas!
Aquela era a constatação de metade dos homens que ela conhecia. E ele lá, discreto e ligeiro, tinha desvendado o mistério do mistério feminino. Ela gostaria de tê-lo ouvido mais, mas tinha centenas de redações para ler. Mas, agora, sozinha, ela pode rir. Rir da sua idade, de seu passado, de Paulinho. E da gostosa sensação disso tudo. Porque olhar para Paulinho é ver um pouquinho de si mesma. E um pouco daquelas pequenas coisas que parecem ser atemporais.
Ela sorri debaixo da garoa fina. Em outros tempos, aquilo lhe teria devorado e ela estaria entristecida e tingida pelos mais diversos matizes de cinza. Mas a vida é outra agora. Pensa em Paulinho e seu convite inocente:
- Quer que eu massageie seus pés?
E ela aquela cara de exclamação. Diz-lhe qualquer coisa e ele insiste:
- E que tal uma massagem nas costas? Sei fazer uma massagem muito boa! - ele vai se aproximando.
Ela pede que ele vá fazer qualquer coisa e se afasta, arisca. Mas quando está sozinha, ri. Ri porque enxerga em Paulinho a sua adolescência não tão distante. Ri do seu sorriso de menino de 12 anos. Porque Paulinho só tem 12 anos. E, sempre que a vê, é todo sorrisos e atenção e bombons e agrados. E ela acha graça porque, em parte, ele parece saber muito mais do que dezenas que homens da sua idade. Ou então, saber tão pouco quanto eles:
- Professora, por que as mulheres são tão complicadas?
Ela, interrogação e exclamação, pergunta:
- Como assim Paulinho?
- Ah, não sei. As mulheres parecem ser de uma outra raça. Não entendo elas!
Aquela era a constatação de metade dos homens que ela conhecia. E ele lá, discreto e ligeiro, tinha desvendado o mistério do mistério feminino. Ela gostaria de tê-lo ouvido mais, mas tinha centenas de redações para ler. Mas, agora, sozinha, ela pode rir. Rir da sua idade, de seu passado, de Paulinho. E da gostosa sensação disso tudo. Porque olhar para Paulinho é ver um pouquinho de si mesma. E um pouco daquelas pequenas coisas que parecem ser atemporais.
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