Febre
O sol ardia intensamente. Meu rosto ardia pulsante. E o cigarro entre meus lábios ardia secamente. A fumaça subia e se misturava aos pensamentos que vazavam pelos meus ouvidos. Coisas demais para um sujeito só. Passei a mão pelo rosto e constatei que esquecera de fazer a barba. As meninas saíam para a rua com seus vestidos de verão e achei que a vida não era justa. Não era a primeira vez. Falavam sobre as provas. Eu dava ombros, mais nada daquilo me importava, só o Coltrane que pulsava na minha cabeça e pensei em puxar o gatilho. Eu achei que fosse morrer porque aquela febre não diminuía. Mas o cachorro – barriga ao sol – me impediu: cavou um buraco perto do banco de cimento e enterrou uma wafer de morango.
Meu cigarro foi acabando e só sobraram minhas cinzas. Ambos havíamos sido consumidos.
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