Gosto de homens covardes
- Gosto de homens covardes - ela declarou secamente, antes de um gole do seu cappuccino quente.
Não entendi e ela percebeu pela minha expressão. Não foi a brisa da janela do Fran's café que me roubou qualquer reação: foi o que ela tinha acabado de dizer.
- Oi? - insisti.
Ela vez um gesto com as mãos de quem não sabe se explicar.
A conversa tinha começado:
- Melhor? - perguntei, passando o sache de açúcar com mensagem açucarada.
- Não - ela respondeu séria, o rosto sombrio.
- Deixa eu adivinhar: pessoas covardes.
Ela concordou com a cabeça e aí me veio com a pérola:
- Gosto de homens covardes.
Longa pausa. E eu, mais do que nunca, aprendendo a respeitar seus silêncios e lacunas e vazios.
- Não que eu procure pessoas assim: simplesmente acontece. Gosto de homens que se revelam covardes. Quando descubro que são covardes, já é tarde demais...
- Ah - respondi aliviada.
- E isso é tão... sei lá - disse fazendo uma careta.
- Sei lá?
- É, sei lá...
- Hum. Então talvez seja hora de você se interessar por homens que revelem outras coisas.
- Eu poderia me interessar por um homem que se revele... péssimo leitor.
- Mesmo? Você?
Ela me olhou pensativa:
- De que adianta sensibilidade com palavras se falta a sensibilidade para lidar com as pessoas?
- É - concordei, mascando o meu coração.
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