O engodo da neutralidade ou A raposa é uma tola
Ele, adorável e afetuoso e com o dom de encher linguiça, me perguntou diretamente:
- Professora, você acredita em neutralidade?
- Sinceramente? Não. Nunca.
Ele sorriu satisfeito - não sei com o que, mas satisfeito. Acho que comigo, só isso.
O meu plano ser o mais neutra possível, manifestar minha opinião o mínimo possível. Não ser tendenciosa e simplesmente apresentar fatos e deixar que eles decidissem o que é melhor, em que acreditar. Pois bem, mas percebi que posso deixar que eles escolham - afinal, livre arbítrio impera* - sem, nem por isso, me eximir da responsabilidade de expressar o que penso acerca de certos assuntos.
Expressar e expor não são o mesmo que impor.
E, inexplicavelmente, eles me ouvem.
Falei para o mesmo rapaz adorável:
- Você se liga em narrativa, né? Procura um cara chamado Propp: ele trabalha com a estrutura da narrativa. É fantástico! E tem muito material dele e sobre ele na internet!
No dia seguinte, ele vem me dizer que foi atrás e adorou o Propp.
Poxa, sou ouvida, de verdade - ainda estou me acostumando com a ideia
* Isso me lembra de uma coisa importante: Estou começando um movimento de dosar a responsabilidade/ culpa. Ter claro pelo que se é responsável é fundamental para não assumir aquilo que está além das nossas possibilidades. E, cá para nós, até que ponto sou responsável por aquilo que cativo? Suspeito que a raposa do Pequeno Príncipe não estivesse com nada - ou quase nada.
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