Lili e a encruzilhada


A estrada se bifurcava logo a sua frente. Lili encontrava-se numa encruzilhada. Ela parou e desceu da monark lilás e, antes que pudesse tomar qualquer decisão, avistou um homem à sua frente. Ele estava caído no chão. Completamente sozinho. Aproximou-se rapidamente. Desconfiou que já estivesse morto. Embora uma voz dentro da sua cabeça dissesse que não havia nada que pudesse fazê-lo voltar à vida, ela tentou. Reconhecendo que era alguma coisa cardíaca, tentou fazer com que seu coração voltasse a funcionar. Usou de seu tempo e de sua energia. Mas foi tudo em vão. O coração do pobre havia parado de funcionar definitivamente.

O grande dilema de Lili já não era a bifurcação, mas o cadáver que jazia sereno sobre a terra. Os primeiros urubus despontavam no céu. Nuvens plúmbeas se aproximavam curiosamente. Lili não conseguiria enterrar o homem. Pensou em levá-lo em sua bicicleta. Mas isso logo se mostrou impossível. Não poderia carregá-lo por muito tempo. Não agüentaria tal peso por muito tempo.

Entristecida, fechou os olhos do homem e deixou-o protegido por seu guarda-chuva. Não havia mais nada que pudesse fazer. Estar de mãos atadas lhe era por demais doloroso. Mas assim era a vida. Subiu em sua monark lilás e escolheu um dos caminhos. Não posso dizer qual. No fundo, ela sabia que os urubus fariam companhia para o cadáver. Olhou para trás diversas vezes e chegou mesmo a voltar uma parte do trajeto. Mas voltou a seguir o seu caminho. A chuva caía desesperadamente e Lili não podia mais voltar.

Comentários

Desencontros: amor-compaixão que chega tarde, a urgência do que se foi. Um guarda-chuva por testemunha. E nem falemos da profilaxia no bico dos urubús.
Texto forte, imagens contundentes.
Abraço.
biel disse…
lili fez o que pode, o cadáver não a ajudou!

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