Zeca e o tédio

Zeca não tinha medo de nada. Nem da morte. Na verdade, tinha um medo sim, que se estendia aos demais homens. Não a todos, naturalmente, mas a uma boa parcela. Zeca tinha medo de mulher. Se fosse bonita. Ai ai ai. Se fosse inteligente. Putz! Agora, se fosse bonita e inteligente, complicava tudo. Muita areia para o caminhãozinho. Um medo danado de ouvir “não”, mas medo maior ainda de ouvir “sim”. Dado o seu ego, que ocupava o Morumbi inteiro (ele era são paulino), nem por você nem por ninguém ele se envolveria com alguém que pudesse, sem querer, fazer com que se sentisse inferior. Certa vez uma amiga lhe disse:


- Ah! Então você gosta de mulheres burras?


Ele respondeu prontamente que não, após lhe confessar sua covardia e o quão intimidante as mulheres inteligentes eram. Seguindo tal filosofia e rejeitando as mulheres bonitas e inteligentes que cruzaram seu caminho – ok, só foram uma ou duas, mas o suficiente para que buscasse outro “tipo” - arranjava as desculpas mais esfarrapadas a fim de não se envolver com nenhuma delas. Um dia encontrou, finalmente, a mulher perfeita! Beleza e inteligência medianas. Na verdade, ela não era lá muito esperta nem muito bonita. Mas era, sem dúvida, uma boa companhia: sempre concordava com ele, sempre achava tudo o que ele dizia fascinante e não tinha grandes opiniões sobre as coisas. Já que não era muito bonita, os homens não olhavam e Zeca não tinha ciúmes – embora não deixasse que saísse de mini-saia, ordem essa que ela acatava com a maior consideração.

O tempo foi passando e o namoro foi cansando Zeca. Sem grande paixão nem emoção foram ficando juntos. Porque, afinal de contas, era seguro e confortável. Nas palavras de Valdemort, “era cômodo”. Até que um dia, percebeu que não era aquilo que queria para sua vida. Mas só se deu conta disso quando ela estava vestida de branco, na sua frente, com uma aliança na mão esquerda. Ela dissera “sim”.

Nota para o Historiador e demais interessados: "Valdemort" é o apelido de um amigo que costumava condenar veementemente o comodismo das pessoas.

Comentários

Marina disse…
Amei ...
A que escola pertence?
Um conto 100% Realista ... rs

Parabéns ! Mto bom mesmo!!
Cayo Candido disse…
Crônica do homem do Séc XXI... Ou da mulher?
Bom texto!

PS: Valde quem???
FDP! Essa é uma abreviatura popular bem adequada pra esse Zeca aí.
Legal a estória.
Ô, Zeca! Pelamordedeus, homem!...
Sempre vale passar por aqui.
Abraço.
Anônimo disse…
O cometário é tosco, mas é impossível não pensar em Zeca-gão.

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