Dora, a vingativa [1]
E o que você vai fazer? - perguntei à ela.
- Nada - disse Dora, sem tirar os olhos do espelho.
- Mas... Você sempre faz alguma coisa - observei bebericando meu chá.
Ficamos em silêncio, ela acertava os últimos detalhes de sua maquiagem.
- É que ele...
- É casado. E? Você conhece a minha política de homens comprometidos.
- Mas você vai deixar assim barato? Quer dizer, ele te enganou, certo?
- Sim. E...?
- É que... Se fosse em outros tempos você...
- Não, não - ela me interrompeu sorrindo - Isso não vai ficar assim.
Sua maquiagem estava perfeita. Os cabelos, perfeitos.
- E o que você vai fazer? Contar para a esposa?
- Eu? Imagine! - ela riu e olhou para mim - Ele não é problema meu.
- Então...?
- Primeira coisa: eu não sou criança. Sou adulta e sei resolver meus problemas. Segunda coisa: não sou boba. Simplesmente já sei o que fazer. Vou sumir. Aliás, já sumi.
- E?
- Não existo mais. E depois disso ele passou a ligar com mais frequência, manda e-mails. Até flores.
- Por que isso? - olhei-a ressabiada.
- Ah, sei lá.... Tem gente que gosta de ser desprezada. Ou simplesmente quer ter aquilo que está fora de alcance. Deve ser pelo desafio.
- Nunca tinha pensado desse jeito, Dora.
Ele me olhou signitivamente.
- Às vezes, não fazer nada é fazer muito.
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