Quinzinho and the darkness

- Eis aqui. Na ausência das estrelas vai este punhado de vagalumes mesmo - ela disse a Quinzinho.

Podia ser uma questão de escuridão interior. E era. Mas também o bairro estava sem luz. Difícil achar o caminho de volta quando não se sabe onde se está. Mas ela fez a oferta. Sempre fazia-lhe ofertas. Ofertas que ninguém mais fazia-faria. Por isso, era ela com ele, ambos perdidos. Ainda assim, ela insistia que sabia o caminho. Talvez soubesse - algumas pessoas se orientam pela bússola que levam no peito.

Era engraçado como sempre há alguma luzinha no sincero breu. Sempre havia uma mão no ombro ou uma mão que puxava Quinzinho para frente. Sentia um halo de ternura. Um cheiro de sabonete. No escuro, ia pelo tato. Mão com mão. Hálito. O som da sua voz.

Ela acendeu seu isqueiro BIC amarelo: a chama na altura dos olhos. Olhos em chama. Ela bufava sempre:

- Fala-se demais de paixão...

Quinzinho não respondia nada. Fechava os olhos naquela escuridão escolhida, a mão colhida em flor. Deixa-se levar, onde seus pés iam dar? Não era mais o cego em tiroteio. Nunca fora: alguém sempre o acompanhara na escuridão. Ele não conhecia a solidão. Agora menos ainda.

- Olha para mim - ela pediu.

Quinzinho abriu seus olhos grandes e escuros. Engolfavam. A chama do isqueiro aquecia menos do que as mãos dela. Então estava tudo bem. Continuaram pela noite adentro. As estrelas não davam as caras: tinham preguiça dos amantes contemporâneos, preferiam o ócio - as estrelas, os amantes.

Por fim, chegaram à casa de Quinzinho. A luz começou a piscar. Ela passou a mão suavemente pelo seu rosto e sorriu. Ele sorriu de volta. Desde quando...? As luzes piscavam e, num piscar de olhos, ela ganhou rua. E as luzes voltaram, só para que Quinzinho, atônito, pudesse vê-la desaparecer no ar. Ouro em pó.

Então a vida era assim?

Bom, pelo menos estava tudo claro outra vez.


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