Angústia
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Não tinha mais vontade de viver, mas não queria morrer. Daria para ele ficar assim? Flutuaria entre céu e inferno, alheio a tudo aquilo pelo qual havia lutado a vida inteira. E a vida, ah essa menina batendo na mesma tecla triste e grave e lenta:
tum
tum
tum
- Socorro não estou sentindo nada....
Mentia. Engole o choro que homem não chora. Mas chorava compulsivamente quando cantava Elvis no carro. Sem qualquer motivo. Não é porque não tem motivo que não está ali, que não dói.
Dói ouvir a mesma tecla sem se chegar a lugar nenhum. Sim, ele se perdeu e, estranhamente, não estava desesperado porque os sentimentos ruins consomem a gente, sabe? Era preciso e precioso se focar nos bons, mas... pra quê?
tum
tum
tum
Dobrara-se em mil. E nada. Um desânimo. Assolador. Nem ânimo para reclamar, declarar, declamar. Nada. Era todo vazio e silêncio. Silencioso, bebericava seu café sem que ninguém o notasse. Mas notavam e notaram. Sem perspectivas, sem planos, sem sentir que podia de fato fazer algo de bom pelo mundo e por si.
E não gostava de confete. Passou a evitar o contato social. Mas queria mesmo era evitar a si mesmo todos os dias no espelho do banheiro.
No verão, as noites deveriam ser mais curtas. Mas as dele não eram.
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