Lázaro, o sentimenal

Luiza.

Olha...

Luiza.

Estava pensando aqui em você, Luiza, muito, e lembrei muito de um texto do Ivan Angelo chamado "Vai":

Quer ir? Vai. Eu não vou segurar. Uma coisa que não dá certo é segurar uma pessoa contra a vontade, apelar pro lado emocional.

E eu não sou disso - talvez você não soubesse e agora sabe - não sou de segurar. Foi por isso que você fugiu? Foi algo que eu disse? Ou que eu não disse?

Mulher é tudo complicado, mas você é mais Luiza, porque eu não faço ideia do que se passa com você. Nem vou saber, pelo rumo que as coisas tomaram, ou melhor, pela ausência de rumo - e tudo em você é ausência. Ausência perene. Porque dói, Luiza, de verdade. Você já devia desconfiar que eu sou um sentimental. Pronto, agora pode ter certeza. Te dou a certeza embrulhada em papel celofane vermelho:

- Olha, ela é sua. 

Ela e todas as outras certezas que já te sussurrei, te servi no jantar, te levei em forma de flor.

Não me importo, de verdade. Me chame de cafona, você sabe que eu não ligo para o que os outros pensam. Me chame de cafona, mas me ajude com a minha gravata, sim? Que ela não é mais a mesma desde que você...

Ela me olha pensativa e me pergunta:

- E Luiza?

E eu olho para ela com meu ar grave e passo a mão pelo meu bigode melancólico. Balanço a cabeça, dramático. Não me importo.

É medo? Nunca fui violento, ciumento nem falei de casamento.

Não me importo com seu medo, me importo em não ter merecido nem ao menos o seu "não" e agora fico aqui choramingando. Estou um chato - e ainda, de quebra, um triste.

Você dançava entre o "sim" e o "não" e nem o "talvez" você me deu. Eu poderia ouvir qualquer coisa, qualquer som de seus lábios. Mas qualquer coisa não é o mesmo que nada. E o silêncio impera e afasta mais nós dois, que tanto já estamos afastados. 

Só posso dizer que tudo isso me dá pena, tudo isso é triste e nós somos tristes. Triste como "Luz Antiga" do seu amado Nando Reis. Triste como ela cai como uma luva - e quem sofre é a minha gravata.

E, embora triste, ainda sou o mesmo, meu amor. Algumas coisas ainda são as mesmas. Mas espero que, um dia, você não seja mais a mesma, espero que passe a dar uma chance para as pessoas, para a vida e para as coisas que te fazem bem. Espero, de coração, Luiza, porque me importo com você de verdade.

E verdade foi tudo o que te mostrei até agora, desde o começo, desde o primeiro gole de sonho.


Ouvindo Milágrimas (Itamar Assumpção)

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