Lili e o Homem de Lata
Porque as vidas das pessoas iam se emaranhando umas nas outras. E Lili, às vezes, se perdia por essas veredas. Sem vocação para mistério, Lili perguntava o que queria saber. Perguntas difíceis, respostas mais difíceis ainda. O Homem de Lata respondeu. Sim, ele tinha um coração, ela já sabia há tanto tempo... E veio-lhe um cansaço milenar. Parecia coisa das suas centenas de vidas passadas. Ele lhe lembrava um palhaço triste, que por trás da pintura escondia... O quê? Ela sorriu abobalhadamente. Sabia vagamente. Tudo e todos sempre tão vagos. E então celebrava sua exatidão ao lidar com a vida e com seus desejos.
O verbo do encontro foi querer: “O que você quer?” Lili torcia o nariz. Aquela sua transparência já não celebrada e sua necessidade de terra firme a impeliam a responder. O Homem de Lata respondeu, timidamente. Porque ele entregava um pouquinho de si cada vez que ficava sonolento. Mas dessa vez, apesar de já ser tarde da noite, ele estava lúcido e respondeu-lhe sóbrio. Sincero e sóbrio. Não vomitava palavras irrefletidas como Lili. Era comedido e sempre muito racional. Talvez tão prático quanto ela.
A tal resposta a levou a uma ilha. Ela chegou à terra firme, sentia-se segura agora, mas, de algum modo estranho, ainda continuava às margens – e observou os pés molhados à beira da praia. Mas não gostou dessa terra nova. Aridez desértica. Não cresciam flores lá. Armada da pequena jangada, Lili lançou-se ao mar de novas possibilidades, em busca de terra firme em que crescesse alguma coisa.
Comentários
hehehe!
comentário besta, né?