Sem borracha
Num breve encontro nas escadas com o Historiador:
- E as suas cinco novelas? - perguntou ele com um sorriso.
Para minha surpresa ele novamente insistia que eu tinha cinco novelas simultâneas. Talvez eu fosse tão dramática que o desgaste emocional valesse por cinco ou ainda, talvez eu me agarrasse tanto a certas coisas que parecesse mesmo uma boba. Mas, sinceramente, não me importo com isso.
- Era uma só e acabou.
- Ah! Mas isso é ótimo! Agora você pode começar do zero, da página em branco – disse ele gesticulando animadamente.
Ok. Ele era uma pessoa positiva – eu também. Mas ele, sendo Historiador, mais do que ninguém, deveria saber que essa história de “começar do zero” não funciona. A história não pode se apagada. Talvez esquecida. No máximo, podemos virar a página - e tem gente que nem isso consegue. Mas na minha condescendência:
- Ah! Recomeçar sim.
- É! Faz bem!
Eu não entendia porque ele estava tão animado com isso tudo. Talvez ele visse coisas que eu ainda não tivesse visto. Talvez minha visão ainda estivesse ligeiramente turva – embora já dividisse alguns planos-futuros-possíveis com a Diva Ruiva. De qualquer modo, eu estava feliz. Escrevemos os capítulos de nossa história e todos têm um momento certo para acabar. Alguém me disse que “só acaba quando a gente decide que acabou” e gostei disso – nos faz ver como temos o poder sobre nossas vidas. Um poder do qual tantas vezes não ou mal nos damos conta.
A Garota de Leeds pareceu celebrar minha decisão. E por dentro, também celebrei. Todavia, o tal recomeço já se manifesta nesse meu sorriso bobo. Talvez minha visão não estivesse turva como julguei a princípio... E que venha o desconhecido!
Comentários
mas isso é ótimo, porque no fim, o que resta senão estórias pra contar?