Clara e o realista

Queria ir embora com a noite, pegar carona num cometa qualquer:

- Você é responsável por aquilo que cativas.

Era aquilo? Lera o Pequeno Príncipe já havia tantos anos e aquilo continuava sem lhe ter feito grande diferença... Clara se sentou sobre a cama. Amanhecia. Deus ajuda quem cedo madruga. Deus estava naqueles que vendiam café e bolo para os trabalhadores nas ruas pelas manhãs nubladas., isso sim Mas ia ser dia de sol a transbordar sardônico pela janela. E a vontade de ficar transbordava pelos seus poros, embora, por fora, fosse a total imagem da frieza e do raciocínio lógico:

- Se me apressar, pego o primeiro trem.

Embora tivesse sono pesado, ele não demorou a acordar. Olhou no relógio e virou-se para ela:

- Mas ainda é cedo - ele sorriu sonolento - Você não vai não.

Seu livre-arbítrio questionado. E aquilo tinha um gosto delicioso. A vontade partilhada. Beijou sua mão e puxou Clara para perto. Mais perto. Por que insistir em construir uma distância que não existia? Para quê?

- Você fica aqui comigo - beijo do ombro - Depois te levo para o trabalho.

De repente ela não quis que existissem distâncias. Na verdade, elas já não existiam mesmo e Clara se agarrava a possibilidade de que nunca existissem. Mas não pensou muito: deixou os sapatos vermelhos, deixou-se abraçar e deixou-se querer e ser querida. Seu livre-arbítrio entregava-se sem pudores.

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