Via crucis

Ia plúmbea e sangüínea. Sangüínea não que seu sangue ralo já tinha se esvaído. No seu caminho matutino se despia de tudo: sonhos, medos e máscaras. Não sobraram unhas ou cores: era uma boneca de cera. Todavia não derreteria caso tentassem aquecê-la. O fato é que já não era humana.

No seu ouvido de zumbi, morta-viva, zumbiam as vozes exteriores e violavam seu ouvidos e sua vontade. Caso seguisse a trilha de cabelos, encontraria-a macilenta e cinza. Cabelos? Sim, se desapegava de tudo a sua volta numa incrível velocidade e os cachos negros foram ficando para trás. A boca sem cor, os olhos de botões pretos e gastos e velhos. Nem suspiros nem surpresas. No alarms and no surprises.

Sempre no meio fio, na corda bamba que se tornara a sua vida jovem. Sempre às margens, sem pertencer a lugar nenhum ou ser reconhecida como um ser vivente e pensante e decidinte. Votar ela bem  podia, decidir o futuro do país, mas era provida do direito de decidir sobre a sua própria vida.

Sempre às magens, parou no meio da ponte. Alguns fios de cabelo ainda iam se soltando no vento úmido e saudoso. Não queria mais as margens, queria o fundo.

De chumbo, afundou e num gole foi tragada pelo rio Pinheiros.

Comentários

Anônimo disse…
q lindo!
cê tá cada dia melhor :D

> sara

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