Sonolentos
Os dois estavam sonolentos. Deveras sonolentos. Já devia passar das duas e ambos lutavam contra o sono. A cabeça de ambos tombava para esquerda. Olharam-se e sorriram um para o outro, cúmplices. Como que se reconhecessem, não pela primeira, mas pela terceira vez naquela mesma noite. E era a terceira vez naquela noite que uma ternura morna e mista tomava conta de ambos.
Era uma coisa assim delicada, uma coisa do cuidado com o outro, de rirem juntos e se olharem como os velhos amigos que eram e... ainda assim... Sentirem uma sensação diferente, uma mistura de cócegas, brisa e benjoim.
Já devia passar das duas e ambos lutavam contra o sono - ou seria contra os sonhos? Eram sólidos, serenos e sensatos. Não havia espaço para sonhos, mas aconteceu alguma coisa naquela noite. Naquele momento. E não sabiam ao certo se haviam jogado o momento fora, com os restos de fim de festa ou se apenas o tinham guardado para mais tarde, cultivado carinhosamente à conta-gotas na mornidão do peito-estufa.
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