Segredos de máquina de lavar

Foto: Cayo Candido
Pisou nela pela primeira vez. Assim sutil, mas perceptivelmente. A voz macia de Tia Ninota ecoava em sua cabeça:

- Nunca deixe um homem pisar em você.

Mas deixou. E aquele pisão a deixou tão suja que precisou se lavar na máquina. Mas secou-se à sombra, pendurada no varal, simpática e resignadamente. Ainda assim, ficaram algumas manchas.

Achou que ele valia uma segunda chance. Mais uma vez a voz de Tia Ninota:

- Segundas chances só podem ser dadas uma vez: do contrário, deixam de ser segundas.

Pisou nela pela segunda vez. E ela era toda um olhar desoncertado e confuso.

- Por quê? - devia ter perguntado.

Colocou-se de molho por uns dias, sabendo das consequencias para suas cores de borboleta monarca. Lavou-se três vezes na máquina de lavar, como se a água pudesse lavar toda a sujeira das solas dos sapatos dele, aqueles sapatos que tinham percorrido os quatro cantos do mundo.

Estendeu-se no varal, mas, desta vez, ao sol. Quem se importa com o desbotado?

Ela deu ombros e encontrou-o pela última vez. Última porque obviamente ele pisou nela novamente. Ele apenas fazia o que mandava sua natureza, mas ela foi contra a sua própria e resolveu não desperdiçar mais chances, tempo ou OMO tripla ação: foi embora para lavar-se pela última vez.

Secou-se ao vento e ao sol, ignorando os avisos dos demais. Abraçou suas manchas e disse adeus as cores que iam abandonando-a.

Era a experiência e suas marcas - e perda de cores entre outra ilusões.

Comentários

Larissa disse…
Minha máquina de lavar não aceita manchas de segunda chance. Nem de burrice. Ela já decidiu até que vai demorar mais lavagens pra tirar certas solas de sapato que é pra eu não esquecer de certas coisinhas. Acho válido. Poupa muito sabão em pó.
Rafael Brunhara disse…
Uma pisadela e um beliscão
Cayo Candido disse…
Não são manchas também cores?
Cláudia disse…
chutou o pau da barraca. :)

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