Segredos de máquina de lavar
Foto: Cayo Candido |
- Nunca deixe um homem pisar em você.
Mas deixou. E aquele pisão a deixou tão suja que precisou se lavar na máquina. Mas secou-se à sombra, pendurada no varal, simpática e resignadamente. Ainda assim, ficaram algumas manchas.
Achou que ele valia uma segunda chance. Mais uma vez a voz de Tia Ninota:
- Segundas chances só podem ser dadas uma vez: do contrário, deixam de ser segundas.
Pisou nela pela segunda vez. E ela era toda um olhar desoncertado e confuso.
- Por quê? - devia ter perguntado.
Colocou-se de molho por uns dias, sabendo das consequencias para suas cores de borboleta monarca. Lavou-se três vezes na máquina de lavar, como se a água pudesse lavar toda a sujeira das solas dos sapatos dele, aqueles sapatos que tinham percorrido os quatro cantos do mundo.
Estendeu-se no varal, mas, desta vez, ao sol. Quem se importa com o desbotado?
Ela deu ombros e encontrou-o pela última vez. Última porque obviamente ele pisou nela novamente. Ele apenas fazia o que mandava sua natureza, mas ela foi contra a sua própria e resolveu não desperdiçar mais chances, tempo ou OMO tripla ação: foi embora para lavar-se pela última vez.
Secou-se ao vento e ao sol, ignorando os avisos dos demais. Abraçou suas manchas e disse adeus as cores que iam abandonando-a.
Era a experiência e suas marcas - e perda de cores entre outra ilusões.
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