Borralho
Acordou com a mão esquerda formigando intensamente. O coração aos pulos de sobressalto descompassado aos mergulhos na garganta oscilante dançante sufocante delirante. Arritmia. A pressão? Acordara no meio da noite com a mesma sensação, mas tudo se acalmara e ela voltara a dormir.
Ele se levanta. Vai se olhar no espelho. Tão bonita. Estaria prestes a morrer? Mesmo sendo tão bela e tão jovem. Bela e jovem: era apenas isso o que era e a isso se resumia. Nada mais. E tudo seria menos triste se fosse velha e feia? As pessoas ruminariam que sim, secretamente entre seus confortáveis travesseiros. Segredos de alcova.
O essencial não era invisível aos olhos, mas escorria deles, sutilmente. Ser bela não tinha valor algum e não fazia qualquer diferença naqueles momentos, quando lembramos ser todos humanos - e frágeis. A dor, algo partilhado pela humanidade. A morte, certeza da despedida da centelha divina. Das cinzas às cinzas, do pó ao pó.
E foi com a mão que formigava que acenou adeus.
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clelia, tia