Like a princess
Ela gostava do jardim de casa. Todas as noites, se sentava junto ao banco que dava para as roseiras brancas. Não gostava de rosas, mas a recíproca não era verdadeira: as rosas pareciam ficar mais felizes quando a viam. Tinha bom coração e boas intenções - então agradava as rosas e se sentava com elas.
Era uma vez um tempo em que ainda a agradava agradar aos outros.
E todos os pequenos insetos vinham visitá-la, sentada com um livro, com a flauta, com o bordado. A delicadeza de suas mãos e palavras escondia qualquer coisa no olhar. Mas sempre muito contida e serena por entre besouros esverdeados - fusquinhas metalizados -, mariposas veludosas, vagalumes incandescentes, centopéias dançarinas, mosquitinhos serelepes, grilos sensatos.
Era uma vez um tempo em que ainda bordava.
Pois eis que um sapo foi morar no seu jardim. Chegou como quem não queria nada e foi ficando e ficando. Logo veio outro e mais outro. Logo, eram cinco. Ela lendo, tocando, bordando. E eles ali, observando-a absortos.
Curioso era notar que ela nunca os procurava: eram eles que vinham até ela. Alguns cantavam, querendo sua atenção. Ela olhava e sorria, suavemente. Dificilmente eram encontrados por quem quer que os procurasse, mas bastava que ela saísse no jardim e lá estavam eles, diligentes e gentis.
Certa vez, ela pousou o livro no banco - Grimm - e encarou os sapos perplexa, como se despertando de um longo sono de cem anos:
- O que será que eles estão pensando?
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Abraços
Renato Alves