Mil e um


Mil e um beijos foram prometidos. Não no papel, não verbalmente. Num olhar mais demorado - por entre os carros ou por entre os lençóis? Só sei que foram - pouco importa onde, pouco importa quando. O que importa é que é fato. Não fato consumado, mas fato que se vem consumando - mais e mais a cada dia. E vem nos consumindo, para nascermos do que depois?

E nós, que tanto temíamos as promessas, nos demos as mãos e dissemos: vamos? E, ao mesmo tempo, nos olhamos desconfiados e olhamos desconfiados para o céu recheado de nuvens.

- Putz! Vai chover!

Faço uma careta, tiro as sandálias e saio correndo descalça de debaixo da marquise.

- Vamos? - estendo a mão.

E sei que nós dois engolimos, temerosos, o chavão "quem sai na chuva é para se molhar". Faz parte do nosso show. Mil e uma gotas de chuva, mil e uma empadinhas de frango (ai azia), mil e um sustos para curar soluços, mil e uma noites de histórias de fazer inveja a Sherazade.

Para meus antigos amantes, eram mil, para você mil e um: cafunés, cafés, caramelos. E, ao mesmo tempo, sem grandes pretensões de te agradar. Os cabelos são meus, as roupas, os gestos, as palavras. Só eu sei o que partilhar e do que abrir mão. E não te peço para não me pedir, pois sei que você sabe o que pedir:

[o mundo, leio nos seus olhos - enquanto você me lê em braile]

Espero que não conte sobre nós, nem as coisas que te prometi. Há coisas que são só nossas. Para o resto, existe o resto: os jornais, revistas e televisão. Para nós, serão criadas mil e uma línguas para expressar aquilo que nem a gente [nem o mundo, ah!] consegue entender.

Comentários

Vinícius disse…
Que texto bonito e inspirado! =) !!!
Unknown disse…
Mil e um suspiros lendo essa coisa linda...

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