Desire

Sempre fervia a água para o seu café. Chafé. Ficava sempre uma coisa meio assim, meio pela metade, meio incompleta - faltava. Faltava café[?]. Um dia, esqueceu-se do café, da vida, do dia. A água fervia. E fervia. Transbordava e evaporava. Mas nunca, nunca secava, acabava, se extinguia.

Ele tinha se esquecido da água e se surpreendeu ao ver tudo aquilo intensamente insolente, borbulhante, que transbordava e se esparramava pelo fogão e escorria - e não o fazia correr. Ele ficou olhando sua cozinha inundando. Aquela água que fervia, transbordava, não acabava, que espirrava nas paredes e escorria por baixo da porta da cozinha e inundava outros cômodos.

Olhava impressionado, atônito. O peito molhado. Os olhos úmidos. Sem desligar o fogão, serviu-se da água que brotava incontrolavelmente. Preparou seu café enquanto sentia seu corpo amolecer. E, de algum estranho modo, aquela água parecia diferente - ou foi a quantidade de café?

Alguma coisa parecia certa, totalmente completa, nada mais faltava. Era no café ou em si mesmo? Não pensou muito: foi bebendo a goles gordos. Uma sede daquilo que não se conhecia, mas desde sempre se sente falta. O melhor café que já tinha preparado. 

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