Eterno retorno
Olhei
pela janela do trem lento. O tempo estava quente, mas não abafado como antes. Eu
já não era uma flor de estufa, nem sua borboleta de insetário – exposta e
exibida para todos. Não, nem todas as mulheres jogam jogos mentais. Acho que eu
era a única que logo de cara se entregava completamente.
- Sou teimossísima.
E só fui entender o problema daquela
confissão gratuita mais tarde. “Avistei o mercado da Lapa e pensei em você”, eu
quis te escrever. Amarelo com portas grandes, frutas à vista, perto da estação
de trem. Quis te mandar um bilhete. Você sabe como gosto de bilhetes. No
começo, isso te encantava. Depois eu já não sei.
Para que escrever? Era um daqueles muitos
lugares em que tínhamos planejado ir juntos, mas não contamos com um pequeno
imprevisto. Mas também, uma coisa sobre nós era certa: vivíamos sem prazo de
validade, como se nunca fosse acabar. Talvez fosse ingenuidade nossa, mas
duvido que qualquer um de nós aceitasse viver de modo diferente.
A hora passa arrastada de volta para
casa. Nem me lembro de onde estou voltando, só sei que vou para casa.
Comentários
sei bem.