Maurício+Malu: Introspecção

Malu brincava distraída com a alface no prato: enrolava as folhas úmidas e as mordia. Charuto. 

- A verdade me embrulha o estômago - disse Maurício.

- A verdade do almoço pesado? - quis saber Malu.

- Não, outras coisas - ele respondeu, olhando através dela.

Ele passava o indicador pela borda do copo. Será que queria tirar algum som do copo meio vazio? Nada. O copo era mudo, como a sala sem som.

- Não sei o que fazer com as coisas que morrem em mim. As coisas que as pessoas matam em mim.

- Enterrar?

- Achei que pudesse ressussitá-las... Mas não. Algumas coisas são irrecuperáveis. E sabe o que é pior? Não me ressinto disso.

- Então qual é o problema?

- É que estive me enganando e enganando aos outros, pensando ser uma coisa que não sou mais. Nem nunca vou ser - ela olha pela janela.

- E a verdade te embrulha o estômago?

- É.

- Estamos no mesmo barco então.

Maurício sorri pesaroso e serve groselha aos dois, na esperança de adoçar um pouco da vida.

Comentários

renatocinema disse…
Dialogo profundo na melhor ideia de dizer muito em poucas palavras. Filosofia pura minha amiga poeta.

Indico o filme Sitcom com essa mesma linhagem. Tem pitadas de diálogos assim, com mescla de bizarrice. kk

Postagens mais visitadas