Lili e as cartas que ela mandou

Lili foi arrumar seu armário. Coisas de fim de ano. Esbarrou com algumas cartas que havia escrito e mandado. Então como estariam lá? Lili escrevia rascunhos de cartas, depois passava-as a limpo. As cartas eram enviadas, mas vez ou outra esquecia os rascunhos numa gaveta ou caixa qualquer.

Naquela tarde, encontrou as cartas que tinha escrito para ele. Foi com carinho e surpresa que foi lendo as palavras - nem sempre açucaradas. Percebeu como o tinha amado e como escrevia bem. Pensou que talvez nunca mais se sentisse daquele modo em relação à alguém - sinceramente esperava estar errada... Porque, no final das contas, nunca se sente a mesma coisa.

Todavia, se, por um lado, o amor era passado, por outro, o domínio sobre as palavras continuava. E Lili imperava soberana, às vezes sem se dar conta de seu poder. Certa vez, depois de ler um poema seu, no sarau organizado por um amigo, foi procurada por três rapazes, completamente encantados por suas palavras.

Lili não sabia tocar flauta, mas sabia tecer com palavras como ninguém...

Comentários

Ana Lu disse…
Às nós mesmos nos surpreendemos com as nossas próprias habilidades, e também com o nosso próprio passado. Como podem certas coisas simplesmente serem apagadas da nossa memória? Adorei o texto!

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