Toc toc toc

Enquanto ela escrevia o cartão de natal foi abraçada por uma gostosa sensação de paz interior. Ainda assim, questionou-se: "Por que tenho essa necessidade de ir embora?" Não soube responder, mas não se importou. Tinha-se anestesiado de quaisquer sentimentos mais exaltados. Sua intensidade andava valendo por todos eles.

A letra caprichada, redondinha. O cartão de natal que, se desdobrado, metamorfoseava em carta de adeus. Tão difícil aquilo de dizer adeus. Tinha aprendido só por ele, pois se dependesse de si mesma, não seria possível. Eram os amigos brigados, antigos amantes, mágoas passadas... Todos eles ela abraçava, porque amava as pessoas e amava fazer os outros felizes. Não importava o que tivesse acontecido ou o que estivesse por vir: o seu afago era certo. Seu apoio garantido. Sua presença inquestionável.

Terminou a carta e sorriu. Mais um rito de passagem. Mais um caminho que chegava ao fim para dar origem a outro: ela bateu na porta na qual se lia "2010" e entrou.

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