20 e poucos anos: The Hollow Man
Raul escondeu seu rosto com as mãos. Ficou em silêncio, para depois encostar a cabeça no meu peito:
- Eu não sinto mais nada. Não consigo odiar, mas também não consigo amar ninguém: é como se eu estivesse vazio. Não sei mais sentir saudade... É como se eu não tivesse mais o que oferecer às pessoas, Lô. E acho que não tenho mesmo. Depois dos últimos acontecimentos, parece que eu gastei tudo de mim e não sobrou nada. Só um vazio. Gastei com quem nem precisava. Uma vida de desperdício.
Abracei Raul forte, o mais forte que pude. Parecia que se eu o soltasse, ele desmoronaria. Eu não sabia o que dizer: abraçá-lo parecia ser a única coisa a se fazer, como se aquele abraço pudesse colar seus cacos de mosaico sem vida.
Ouvindo Socorro (Arnaldo Antunes)
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