20 e poucos anos: Fuga
Fiquei olhando para ele. Me lembrei daquilo que meu primo havia dito: "você é do tipo que escorre pelos dedos de quem tenta retê-la... é como água, sabe?, coisa do seu signo". Hein? Será que eu era aquilo mesmo?
Se eu tivesse contado a Raul, ele contaria uma ou duas anedotas sobre minha emocionante vida amorosa: adorava fazer chacota de mim:
- Sim, Lô, você é a própria Femme Fatale - ele riria.
Mas a questão não era aquela. Eu comecei a lembrar das vezes que tinha fugido: sempre tinha sido de caras passionais e exagerados que não me interessavam nem um pouco.
- Estou apaixonado por você...
- Você já tomou o novo Dolly de maçã? Parece desinfetante...
Isso fazia de mim alguém cruel? Insensível? Eu só queria evitar aqueles olhares que me ofereciam tudo... Bom, se fosse cruel, não seria nada não grave quanto Every you every me:
- Mas não é esse o caso, né? - Raul iria perguntar.
Não, não era o caso. Tão logo vi Raul, contei a ele. Naturalmente, ele disse tudo o que imaginei que diria.
- Sabe do que me lembrei? De uma vez quando eu estava numa festinha na casa de uma amiga. Eu devia ter uns 13 anos... Tinha um cara e eu estava fugindo dele oficialmente. Ele era bem legal, mas não tinha nada a ver comigo.
- Oficialmente? - ele riu.
- Era um fato de conhecimento público. E eu não sabia direito o que fazer ou dizer...
- Acho que no fundo a gente nunca sabe...
- Ah! Hoje eu sei...
- Claro, hoje você fala de Dolly de maçã, como se ninguém fosse perceber...
- Bom, o fato é que de repente começou a tocar uma música no rádio e o refrão da música tinha tudo a ver com o momento... Ficou uma situação muito desconfortável.
- E qual era a música?
- Runaway.
- Mas ela canta "I'll runaway with you", "eu fugirei com você".
- "With" ou "from", é tudo uma questão de preposição...
- Ou predisposição.
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