Nem cinco minutos guardados

Parou em frente ao guichê, tirou a nota na carteira e olhou para o atendente. O rapaz olhava para ela. Sem piscar.
- Boa tarde. Me vê duas, por favor - disse ela, passando a nota para o rapaz.
Ele a olhou fixamente por mais alguns instantes. Nunca a tinham olhado daquele jeito em todos aqueles anos. Ela corou e baixou o olhar. Um sorriso tímido. Não, não era caçadora como seu amigo havia observado. Nem nunca seria. O que não queria dizer que não fosse boa jogadora. Tudo aquilo (e um pouco mais) passou por sua cabeça, em menos de cinco minutos.
O atendente pegou a sua nota. Ele era bonito. Apagado, mas bonito. Contou o troco e lhe entregou, silenciosamente. E ela pensando no que ele estaria pensando. E será que ele estaria pensando no que ela estaria pensando?
Por fim, ele sorriu.
- Boa viagem - e o tilintar das moedas em suas mãos.
Guardou-as na bolsa, junto com a sensação daquele momento que perduraria ainda mais um pouco. Ela sorriu, agradecendo mais um olhar que ganhara para sua coleção. Aquele olhar novo que ela não conhecera até então.
Se virou e seguiu na direção da catraca, sem olhar para trás. Mas deveria ter olhado.
E (ela) era verão.
Comentários