Lili e as balas de coco
Que era aquilo? Suspiro e silêncio. Era um outro gosto e outra sensação. Sabor de fruta mordida. E ainda assim, Lili sabia o que era. Já não usava preto e agora vestia um sorriso suave. Lili sabia que não sabia de muitas coisas, mas sabia de algumas outras tantas. E sabia que alguma coisa estava acontecendo. Sonhou que lhe faziam gostosas cócegas, pois era assim que se sentia acordada.
Sem quaisquer dos batidos sintomas. E sim uma sensação tão grande de paz e mornidão e felicidade. Sem crises lágrimas desespero ansiedade frustração exasperação insônia culpa. Lili diante da impossibilidade de concretização e estava bem. Não, ela não se entregrava a um conformismo imbecil, digno da raça dos homens-vegetais. Mas aprendera que nem sempre temos aquilo que queremos. Sendo assim, aprendeu a arte do silêncio, pois a da observação já dominava, e passou a valorizar ainda mais cada palavra trocada.
Era um sentimento sem ambições, feliz e pleno e suave em sua própria existência. Amava as longas caminhadas com ele até a padaria do Seu João. Depois, sentavam no meio fio e dividam os sonhos frescos. Era aquilo e aquilo lhe bastava. Pipoca na praça. Muitas conversas. Livros todos.
Certa vez, ele lhe trouxe balas de coco e ela teve certeza de que era correspondida, mas limitou-se a agradecer. Sorriu. Apesar da pouca idade e de parecer muito mais jovem do que realmente era, tinha para si umas verdades de mulher. Sua intuição flutuava sobre as noites - lua leitosa e macia - mas preferia guardar suas descobertas da luz do dia.
Para Lili, ele era um rito de passagem - passagem para muitos caminhos e, ainda assim, nenhum deles a levava a ele.
Comentários
paguei um pau!