A Morcega: O incompreendido
Ele sempre vinha com a mesma lenga-lenga:
- Ninguém me quer.
E a Morcega, sempre compreensiva, consolava o rapaz com palavras motivadoras e tentava oferecer outros pontos de vista. Ele era um cara muito legal mesmo, fora da média, sabe? Mas o problema era a baixa auto-estima. Foi assim durante anos: ficavam meses sem se falar e quando se falavam era sempre a mesma coisa.
Ele sempre vinha choramingar pelo fato de estar sozinho. Sempre um fim dolorido de namoro.
- Ela terminou comigo.
Sim, a Morcega ponderava com carinho que haveria outras namoradas. Ele era aquele drama, sentindo-se o último homem da Terra: sempre preterido. E era um cara tão legal! Mostrava-se um cara tão acima da média, divertido, inteligente... Especial: era essa a palavra. Como podia estar sozinho? a Morcega se perguntava - e ele também se perguntava, embora secretamente.
Um dia a Morcega encontrou uma antiga amiga, a Insensível. Comentou algo sobre ele e a amiga sorriu cáustica:
- Ele sai pegando geral, sabia? Conta vantagem para os amigos e tudo mais. Conta com quantas ficou por noite, de inseguro não tem nada não. Conta o que fez e o que vai fazer ainda.
- Engraçado. Para mim ele se mostra outro: frágil. Se faz de vítima o tempo todo, me cansa até.
- Vai ver era um ardil para ficar com você.
A Morcega arregalou os olhos como num susto e esclareceu:
- Uma época ele ficou atrás de mim, até que eu o chamei para sair. Ele fugiu. Deve ter medo de mim, medo das coisas de verdade. Acredite. Seja como for, ele não é o que me fez crer, aquilo o que pintou. Não passa de um cara... comum.
Ouvindo The suburbs (Arcade Fire)
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