Contradições sobre filmes diabéticos - ou pelo direito de se iludir
Estava numa interessante rodinha de conversa no domingo quando a pauta "comédias românticas" foi colocada. Quando Lady e eu comentamos que gostávamos de 10 coisas que eu odeio em você (1999), a.k.a. Jonas perguntou a nossa idade.
Sim, eu entendi perfeitamente sua observação: 10 coisas que eu odeio em você é considerado um filme para menininhas. Comédias românticas podem ser vistas como filmes para menininhas. Quando comentei com o Historiador que tinha assistido Educação (2009), ele disse que era filme de menininha. Aí eu tive que discordar.
Mas por que digo que é filme de menininha? Porque é previsível, bonitinho e pinta um mundo que, convenhamos, não existe. O que não é exatamente um problema, desde que não se pense que eles retratam fielmente os relacionamentos entre homens e mulheres.
Bom, isso de fato eles não fazem. Pura idealização. Se quiser saber de verdade como essas coisas funcionam, a sugestão é ler Ignácio de Loyola Brandão e Milan Kundera (em especial Risíveis amores e A insustentável leveza do ser), dois dos meus autores preferidos e que, na minha humilde opinião, melhor falam de amor e sexo. Ou ainda assistir o drama Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Ou ainda 500 days of Summer que, a despeito de ser rotulado como "comédia romântica", traz uma outra perspectiva quanto aos relacionamentos.
Filmes açucarados assim costumam servir de analgésico em momentos sofridos - e sofríveis. Às vezes não tem colo, ombro ou ouvido alheio e, mesmo quando há, é sempre bom ouvir algo do tipo:
- Vai ficar tudo bem.
Quem não quer um final feliz?
Mesmo quando ao desligarmos a tevê, constatarmos que a vida lá fora não é assim. Mas disso todo mundo sabe! Então porque condenar quem decide se iludir por uma hora e quarenta, sendo que depois a pessoa em questão vai voltar a sua vida cotidiana, sem o Heath Ledger cantando Can't take my eyes off you?
Tenho visto como a vida funciona e sei que não é bonito como se fala. Normal: sem traumas nem neuras. A Dinha que ficaria orgulhosa de mim, dessa minha sobriedade genuína entre um cigarro e outro - eu não fumo, ela sim. Como ouvi hoje no rádio:
I'm allergic to tragedy
Mas o que eu tiro dos filmes água com açúcar é que às vezes é tudo o que você precisa para se desligar da vida. Não gosto da idéia de ficar ligada e ser crítica e tensa 100% do tempo, porque está tudo difícil, porque temos que ser sérios e engajados: eu quero a doçura, eu quero a leveza - flertar na chuva sem grandes expectativas, torrar dinheiro em livros, falar bobagem o domingo inteiro.
A despeito do meu discurso pró, eu mesma nem curto muito comédias românticas, mas todas as da Audrey Hepburn. Eu bem podia ter nasciso encantadora e graciosa como ela - talvez a terapia me ajude a superar tal lacuna de identidade.
A leveza da qual falei, costumo encontrar em outros lugares. Acho que por isso mesmo as comédias românticas não tenham muita graça para mim: prefiro dramas, mas não melodramas. Na verdade, qualquer coisa que me faça pensar, ver o mundo por outra perspectiva. Eu já disso isso aqui e digo de novo.
P.S. percebi que uso muito "às vezes": acho que é minha essência relativista transbordando o copo, o corpo - entre o copo meio cheio e meio vazio, já não escolho o meio cheio: simplesmente transbordo.
Ouvindo Bem-me-leve (Apanhador Só)
Comentários
Não é porque gosto de A preciso, odiar B.
Abaixo rótulos banais que nada acrescentam para nosso crescimento e felicidade.
E tenho dito.