Quizinho e sua obsessão
Porque quando era pequeno, Quizinho passou muito tempo com seu avô, um senhor roliço e simpático. Bonachão em modos e palavras. Ele tinha uma certa sabedoria da vida, sabedoria discreta, sem ostentação. Mal sabia Quinzinho que nunca mais veria alguém saber tanto e demonstrar tão pouco.
Um dia, o avô lhe disse:
- Cresça logo, meu filho.
Sábio que era o avô, Quinzinho levou aquilo a ferro e fogo. O avô faleceu, mas ele continuava com aquele pensamento de amadurecer o quanto antes, uma busca incansável. Queimou alguns anos de sua mocidade e perdeu muita coisa, muita experiência em busca da experiência.
Mal sabia ele que o avô, humano que era, também podia errar E devia ter errado. Se Quinzinho tivesse completado - internamente que fosse - no tempo certo, a sua vida seria mais leve mais rica e plena. Mal sabia ele que a tal experiência que ele buscava estava ligada a muitas coisas que ele evitava e postergava: quanto mais buscava sua maturidade, mais se afastava dela. Um imã repelente. Os sinais eram iguais e ele, o mesmo.
Até que um dia, Quinzinho acordou diferente. Foi depois de ter saído do hospital. Acordou e se deu conta de que seus vinte e poucos anos estavam um tanto quanto empobrecidos. Não estava aproveitando a vida.
- Não é uma questão de sair bebendo até cair e dormir cada noite com uma desconhecida - ele explicou junto ao túmulo do avô e continuou - É questão de ser permitir certas coisas.
Pudesse Quinzinho ver os mortos, veria o fantasma do avô contente, as mãos grandes e cheias e um sorriso de aprovação:
- Acho que você finalmente entendeu o que eu quis lhe dizer.
Comentários
"mas o avô não 'tava errado, não! é preciso maturidade para saber aproveitar cada momento da vida!"
... até que no fim o fantasma me aparece, meio mesclado à voz narrativa, e me diz sorrindo:
"calma, rapaz, eu sei o que estou fazendo."
Muito bom, Lari!
Bjs, Vinícius
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