A droga da esperança
Eu odeio a esperança pendente no pingente guardado naquele lenço perfumado. Odeio aquele lenço e aquele perfume. Odeio como ela se finge efêmera e se revela persistente. Persistente e pendente. Como se me pedurasse no varal para secar no inverno. Nunca vou secar, todos sabem.
Odeio o pingente pendente que eu levo junto ao peito, aquecido entre minha pele e as blusas de lã. Inverno. Pingente sem camafeu, mas a foto praticamente nele. As palavras gravadas. E a esperança que eu quero dispersa gravada nele, encardindo ele a minha memória.
Odeio me sentir dependente e pendente. Presa em algum lugar do tempo e do espaço. Onde? Quando? Só sei que é inverno e a esperança me pendurou, ensopada, para secar no varal.
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