Quinzinho e a depressão
- Me coma - disse o pedaço de bolo de chocolate a Quinzinho.
E disseram o mesmo o pastel, a acelga, a lasanha, os sonhos.
- Me beba - disse o copo de suco a Quinzinho.
E disseram o mesmo o energético, o conhaque, o leite, o chá.
Pensar na morte era uma coisa feia, tinham lhe dito. Mas se todos iam morrer, qual era problema de pensar nisso? Porque lhe doía ter perdido a paixão pelas coisas da vida. Tanto as pequenas quanto as grandes. A vida vinha se arrasando. Quizinho era o cachorro amarrado a uma corda presa ao parachoque de uma cherokee. Ia perdendo-se e desmanchando pelo caminho. Quando a cherokee parasse, o que ia restar?
Ser indiferente ao cheiro do café que antes tanto lhe apetecia era uma coisa incômoda. Não era como não caber em si mesmo. Era não servvir mais em si mesmo, como se devesse estar em outro corpo, em outra vida. Mas, lá no fundo, bem sabia que estava na pele de quem devia estar.
Longe de Wonderland, Quizinho queria saber para onde estava indo. Aonde a cherokee o estava levando. Bom, e estava indo a alguma lugar? Ou mais uma vezestava preso num lapso temporal?
Homem ao mar. E essa água tão fria. Talvez precisasse ser salvo. Mas de quem? Temeu que fosse de si mesmo.
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