Os limites da bossa nova ou Forma X Conteúdo ou Versão subversiva

No primeiro ano de faculdade, a professora de Introdução aos Estudos Literários quis me matar: separei a forma do conteúdo ao analisar um poema de Carlos Drummond de Andrade. E eu quis morrer, é claro: não pela heresia que cometera em minha análise, mas pela crítica feita pela professora, crítica deveras merecida.

Demorei para absorver essa história de forma e conteúdo. Entendi logo, mas demorou para fazer sentido para mim. Afinal, entender não é a mesma coisa que realmente absorver, internalizar e não sei mais o quê. Bom, o fato é que entendi já há algum tempo e hoje me deparei com uma daquelas pérolas.

O pessoal deve andar meio sem criatividade, pois o número de versões de músicas antigas parece maior do que nunca. Claro que não tenho dados nem números que comprovem isso: conto apenas com meus dois ouvidos e uma certa chatice, confesso.

Chatice porque as versões são ruins e implico com o que acho ruim, já que nem sempre dá para desligar o rádio. Nem todas são ruins, naturalmente: são ruins quando rompem com a inseparável relação perfeita entre forma e conteúdo - o casamento perfeito. Bom, deveria ser inseparável e se foram separados, as chances de dar certo, da música funcionar não são lá muito grandes.

Ontem estava cá eu faxinando, o rádio ligado e ouço isto aqui:


A princípio, pensei que fosse uma daquelas músicas das novelas do Manuel Carlos, mas logo reconheci que era uma versão da clássica:


Gosto muito de bossa nova, mas não combina, não rola, não tem química com a original, com a letra, com a ideia do Village People. Casamento fracassado. Não dá para colocar bossa nova em tudo, como muitos músicos devem imaginar e ficam pegando clássicos e transformando-os em músicas que não conseguem ser algo novo nem nada. Não têm identidade própria nem chegam a viver nas sombras da original. 

São versões subversivas, na acepção mais enfadonha da palavra.

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