Quinzinho e o último sonho
Já era tarde e Quinzinho estava exausto. Uma sexta-feira cheia de problemas não resolvidos, pessoas insatisfeitas, queixas a serem recebidas. E ele não consegui respirar, soterrado que estava ainda pelo trabalho. Só deixara o escritório fisicamente, pois sua cabeça continuava a seguir os tic-tacs dos prazos e chefes.
Por quanto tempo ele sobreviveria naquele mundo que não era o seu?
Ele não conseguia respirar. O coração bate descompassadamente. Ele parece arrastar-se eternamente. Pegou suas coisa e saiu. Logo ganhou a rua e estava na estação de trem. Pagou o bilhete - saudades do tempo em que pagava meia - e sentou-se num banco.
Esperava o trem. Esperava respostas. Esperava que a vida mudasse e num passe de mágica as coisas fossem outras. Vivemos esperando...
O estômago, roncando, o chamou a realidade, ao cinza asfalto, à solidão do seu quarto, a incompreensão alheia. E ele, que costumava levar a vida com leveza, se viu como que engaiolado dentro de si mesmo.
Seu estômago roncava. Quem tinha colocado aquele gato em seu estômago?
Levantou-se e seguiu em direção a lanchonete. Lá chegando, avistou o último sonho. Pediu para a atendente, mas alguém ao seu lado pediu ao mesmo tempo.
- O último sonho, por favor.
Quinzinho olhou para a moça. Era ela. Lili. Visivelmente abatida, mais aérea do que de costume.
- Pode ficar com ele - ela sorriu.
- Não, eu faço questão. Eu pego outra coisa - ele respondeu.
- Mas não tem mais nada... - ela explicou.
E não tinha mesmo. Ele insistiu em deixá-la com o doce. Lili recusou e rapidamente sugeriu:
- Por que a gente não divide o último sonho?
Quinzinho tragou seu primeiro gole de felicidade do dia e aceitou. Sua versão de poucos segundos atrás ficou para trás.
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