Reconhecimento tardio
Entre risos de menina-moça, eu lhe contei o que tinha feito anos atrás. Ele me olhou atônito, surpreendido e maravilhado:
- Nunca ninguém fez uma coisa dessas pra mim....
- É uma bobagem... Era o jeito de ficar mais próxima de você.
- É a coisa mais linda que já me fizeram...
E eu fiquei pensando: será que às vezes as pessoas não se fascinam por muito pouco? Ou será que fazemos tão pouco uns pelos outros que nos encantamos ao menor sinal de delicadeza? Ou ainda, será que o reconhecimento de certas coisas só vem mais tarde?
Eu percebi um certo remorso em sua voz:
- Se eu soubesse...
Mas ele sabia. Não disso, mas do que importava. Mas, de repente, aquilo foi realmente importante para ele. Tanto que chegou a comentar com uma roda de amigos em comum.
- Você acredita que ela fez isso por mim?
Como eu ia saber? Mas, àquela altura, não fazia a mínima diferença - ao menos para mim. Éramos dois velhos amigos conversando. Nada mais. E com despretensão não-fingida, eu lhe contava coisas antigas que ele conhecia parcialmente.
Às vezes acho que eu surpreendo as pessoas com coisas tão bobas... Outra vezes acho que as pequenas coisas são as grandes mesmo e as pessoas ficam esperando grandes provas... de amor, por exemplo.
Uma amiga fazia os relatórios da empresa no ônibus, a caminho da casa do namorado. Assim, poderia passar mais tempo com ele. Ele nunca reconheceu isso. Eu quero sempre mais de ti. E assim as coisas se perdem pelo caminho e as pessoas se afastam. Não tem jeito: mesmo que a gente faça as coisas sem esperar nada e troca, a gente sempre espera alguma coisa. Nem que seja a não encheção de saco. O mínimo, sabe? E nem sempre o mínimo basta. Pior quando ele não existe...
Tem o reconhecimento tardio. E tem aquele que nunca vem. E achei curioso que tenha vindo depois de dez anos para a última pessoa que eu esperava que fosse se importar com algo assim. Fui surpreendida novamente. Mas eu ainda encano demais com o reconhecimento que nunca vem. Uma perda de tempo.
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