Sob um céu de agosto
Ela tinha ido até lá para o noivado de uma amiga. Uma uma cidade a beira mar. Já tinha sonhado com aquele lugar muitas vezes. Na verdade, poderia estar sonhando agora mesmo.
Depois de ter que ouvir um flerte inconveniente e ter ficado desconcertada, ela saiu da festa para dar uma volta. Estava deprimida demais para beber. Foi sozinha até a feirinha que reunia tudo o que se podia imaginar: desde antiguidades até rolinhos primavera. Encontrava dua vida exposta em cada barraquinha e o eco dentro de cada espaço dentro de si.
O trânsito estava calmo. Ela andava no meio da rua, sem direção. Procura que procura. Procurava o quê? Só procurava. O céu estava escuro, nuvens gordas e cor de chumbo:
- Vai chover!
Uma tempestade de aproximava rapidamente. E ela sem nenhuma vontade de sair de lá. Queria que a tempestade desabasse sobre si. Ela conhecia aquele vento fresco, aquela luz branca que ia morrendo, aquela sensação de apocalipse que se apoderava dela e do resto do mundo.
Pensou naquelas virgens medievais: sacrificadas para acalmar dragões. E, embora não fosse nem virgem nem medieval, resvolveu que um sacrifício se fazia necessário.Havia dragões a serem acalmados.
Deixou para trás a bolsa, os sapatos. O perfume dos longos cabelos se dissolveu no vento - cada vez mais forte.
Caminhava em direção ao mar.
Ouvindo Eu te amo (Chico Buarque)
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