Vem
Você bateu à minha porta. Timidamente. Uma timidez de menino encantadora. Abri, mas você não entrou. Parecia ter criado raízes. Receio dos frutos ou das flores?
Era um impasse. E eu te sorri e sussurrei:
- Vem.
Medo de eu te mandar embora? Te estendi a mão. Meu apartamento de luzes quentes. Lâmpadas incandescentes. Perfumes diáfanos. Incenso. Meu rosto escondido nas sombras das cortinas. Escondido nos ardis que jurei não usar com você.
Mas é sério?
Não sei. E precisava saber? Desde quando as pessoas precisam de certeza? Achei que só eu precisasse delas. Tivesse precisado. Não preciso de certeza. Preciso do que quero agora.
E minha mão estendida. E a você a toca. Mão fria. Precisa entrar para um bom conhaque.
- Vem.
Receio de que? De mim. Mas olhe a inocência bordada no meu rosto. Na minha boca ansiosa. Eu te convido para entrar, mas não posso te puxar pela mão. Você tem que querer. E quererá? Me aperta a mão. Quer. Me quer.
- Vem.
E como que despido de seus receios - fossem quais fossem - você dá um passo a frente, sabendo ser esse um caminho sem volta.
Ouvindo O Silêncio das estrelas (Lenine)
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