Funk como no me gusta
Estava quase chegando ao meu destino e fui surpreendida por um ritmo desagradável. Demorei para identificar o que era, mas tudo ficava mais compreensível conforme ia me aproximando do lugar.
Havia um gol, desses antigos, cinza-sujo, tocando funk muito alto. Mas muito alto mesmo.
Entrei e antes que me sentasse, a recepcionista, sempre simpática, me pediu com um sorriso suplicante:
- Você não quer ir lá e pedir para ele abaixar esse som?
Eu sorri e perguntei se estava assim há muito tempo.
- Sim, o cara está aí faz uns vinte minutos.
Num raio de quinhentos metros, escolas, restaurantes e um centro médico. E eu pensando: quem ele pensa que é? Na verdade, eram dois homens: um dentro do carro, o motorista e o outro um cara grande e forte, desses que metem medo. Era óbvio que ninguém se meteria com um cara daqueles. E mesmo que ele não fosse, grande, forte e tivesse cara de mau (isso soa tão infantil!), poderia ser um rapaz franzino com um revolver qualquer no porta-luvas. Sim, atualmente mata-se por muito pouco - ou quase nada.
O gigante ficava rodeando o carro: parecia estar esperando alguém. Percebia-se facilmente que estava muito orgulhoso de seus potentes alto-falantes. Era quase como se o som marcasse o seu território, sua área de alcance:
"Sim, tenho poder sobre tudo isso aqui"
Em dez minutos, comecei a ficar com dor de cabeça e fiquei sentida pelas duas recepcionistas que não deviam estar mais aguentando tudo aquilo. Felizmente eu estava certa: os dois homens esperavam alguém. Às 13h30, o gigante acena para uma mulher do outro lado da avenida. Ela sorri e atravessa a rua - e eu torcendo para que fosse ela aquela que esperavam.
Sim, era ela.
Os dois entraram no carro e foram embora, deixando para trás uma legião de insatisfeitos e pessoas que são obrigadas a tolerar a falta de cidadania alheia, pois muita gente não conhece ou não dá a mínima para "a minha liberdade acaba onde começa a do outro".
Sim, isso é viver em sociedade.
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