Perdi minha identidade!
E não sei onde! Ora essa, porque se soubesse não teria sido perdida!
... e pode ter sido em qualquer lugar: nas revistas adolescentes, nas intermináveis filas de hospital, na casa do primeiro ex-namorado boboca, nos corredores do prédio da faculdade, nas reuniões do partido político, nas ideologias roubadas de livros de intelectuais, no moralismo seco e estéril, nas cervejas do botequim, nas festas a fantasia, na casa do segundo ex-namorado boboca, na primeira contratação, na primeira demissão, na perda dos meus pais, no desfile da Gaviões, na praia com o biquini, na viagem à Irlanda, na maternidade precoce, no primeiro ex-marido boboca, na lavagem cerebral da mídia, na bomba que eu explodi, no jornal de direita, no papo quadrado de esquerda, nas tradições burras, nas verdades sujas...
Perdi.
Se acaso alguém achar por aí uma identidade com uma foto 3x4 de carinha rechonchuda, olhos sonhadores e cabelos lisos e compridos (pequena crente, me chamavam assim), favor mandá-la para o endereço abaixo:
333, Lost Street.
Se bem que...
... me encaro no espelho e vejo que a pessoa já não é a mesma: outra cara e outros cabelos. Talvez eu simplesmente não precise mais daquela velha identidade de quando eu tinha os meus doze anos.
E, ainda assim, os meus olhos cismam em manter alguma coisa daquela época. Tem coisas que eu não entendo.
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