All you need is me
Ele tinha aqueles cabelos escuros
e uns olhos cheios de mistérios. Mistérios antiquíssimos da humanidade.
Tinha me prometido uma surpresa. Mas eu fingia que não esperava, fingia que esquecia, mas fazia questão de mostrar o quanto me importava. O ser humano é contraditório, não?
Fazia um frio terrível. Eita inverno cruel de coração gelado! Eu já estava lá há uns dez minutos, congelando na minha solidão de ser tropical, imersa em pensamentos e transbordando... O quê? "Expectativas oras", teria eu admitido timida e vergonhosamente para Lili ou Clara. E sorrisos e de onde vinha aquela leveza tão morna? Daqueles insondáveis mistérios - nos meus ou nos olhos dele?
Why do you think I let you get away
With all the things you say to me?
Could it be I like you
It's so shameful of me, I like you
Ele gostava da minha franja e do meu sorriso. Será que ele gosta de mim? Parece não haver garantia de nada hoje em dia... Coloquei os meus fones de ouvido, peguei uma das minhas fitas preferidas e o meu novo walkman e o pensamento voou tão longe tão longe...
No, it's not like any other love
This one is different - because it's us
O pessoal começou a demorar e ele foi o primeiro a aparecer, todo sorrisos. Menos tímido do que eu, mas ainda assim com aquele meio sorriso do qual eu tanto gostava. Os vícios de linguagem. A maneira estabanada de se portar, mas a certeza quando me olhava.
- Oi!
- Oi! Tudo bom?
- Tudo e você?
- Bem também.
- Trouxe uma coisa para você - ele sorriu, tirando uma fita da mochila de lona.
- Minha surpresa?
- Não seja fingida, eu sei que você não esqueceu.
- Pensei que você tivesse esquecido.
- Eu nunca esqueço...
Ele abriu meu walkman e colocou a fita. Ao ouvir os primeiros acordes, eu simplesmente não acreditei. Fazia tanto tempo que eu procurava aquela música. Fechei os olhos feliz:
And if a double-decker bus crashes into us
To die by your side, such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck kills the both of us
To die by your side
Well the pleasure and the privilege is mine
E foi então que aconteceu. Senti uma respiração perto de mim. E pressenti o leve toque dos nossos lábios. Só o leve toque recheado das expectativas que eu tanto havia evitado. E eu senti aquela sensação de quando estamos prestes a beijar alguém pela primeira vez: o leve rubor, o arrepio, a respiração alterada, os pés que parecem não tocar o chão, e aquela coisa que eu tinha aprendido nas aulas de inglês: "I've got butterflies in my stomach". No final das contas, cada beijo era único, resultado de um momento único do encontro único de duas pessoas únicas...
I won't share you, no
I won't share you
With the drive
And the dreams inside
This is my time
Claro que tudo isso se passou em milésimos de segundos, sem grandes debates filósficos. Ele se aproximou mais de mim e nossos lábios se encontraram e se gostaram. Se gostaram muito, tanto quanto nos gostávamos. Acabariam marcando outros encontros, naturalmente.
To me you are a work of art
And I would give you my heart
That's if I had one
Ele me olhou feliz e sorriu. Estávamos de mãos dadas. Minhas mãos tão mornas quanto os meus lábios. Ele arrumou meu cachecol e eu ajeitei a gola de seu casaco. O resto do pessoal chegou e ninguém estranhou as mãos dadas. Outro encontro feliz. Talvez nossas mão e lábios soubessem de tudo antes mesmo de nós.
Alguém sugeriu de finalmente descermos e pegarmos o metrô. Nosso destino? Estação Paraíso.
Comentários
hehehe, mas adorei o texto.