Super-Quinzinho vai ao supermercado


Fazia muito tempo que Quinzinho não ia ao supermercado. Um daqueles prazeres pessoais que lhe tinham sido tirados pela vida atarefada - e pela sua desorganização, que só piorava tudo. A primeira coisa que fez ao sair de férias foi uma lista de compras. Há quanto tempo não fazia uma? Sempre comprando tudo aos poucos, em mercearias perto de casa.

Mas naquela quinta-feira, saiu de carro em direção ao supermercado. Quando pequeno, pensava que o Super-homem trabalhava no supermercado. E descobriu que as coisas não eram bem assim da pior maneira possível: sendo humlhado pelos garotos mais velhos. Ah! Se eu fosse o Super-homem...

Mas nada! Tinha nome de bala, fazer o quê? De super herói talvez só o anonimato, quando disfarçado de gente comum. Por essa mesma época, queria usar óculos para que pudesse tirá-los e revelar-se Kal-El. Mas mesmo sem os óculos, o que poderia fazer dele um Super-Homem já pronto, sua adolescência foi a eterna mornidão de Clark Kent. E afinal das contas, por qual deles Lois Lane era apaixonada?

Fazia mesmo um bom tempo que não ia ao supermercado: as regras do estacionamento tinham mudado. A cancela era outra e não havia mais aqueles cartõezinhos e sim tiquetes eletrônicos, a semelhança dos do shopping.

Puxa, o lugar para pegar o carrinho já não é o mesmo...

Sim, eu conheço o rapaz estranho que está escolhendo maçãs e  me olhando de modo psicótico. Quem é ele? E a mocinha do caixa 13, com aquele seu olhar açucarado? E os rapazes magrelos brigando por carrinhos vazios? O cachorro na porta, esperando de um olhar a um pouco de comida? Os guardas são outros - e os pães também. E desde quando os pães de queijo vêm moreninhos assim e dentro de uma caixa de plástico?

Quinzinho anda pelos corredores, ligeiramente desorientado, por entre os doces belos, parecidos com insetos gigantes com suas asas e antenas de uva itália. As gelatinas perderam espaço: Quinzinho olha triste para o terria devastada, coberta por amendoins e aperitivos. Agora só uma variedade medíocre e sem graça de gelatinas. Pega uma de cada sabor.

Cadê a maizena? Hein? Só maizena em saco? E as da caixa amarela? Quem colocou os chocolates, balas e chicletes nesse corredor, ao lado dos guardanapos? Desde quando goiabada, marmelada e geléia ficam de frente para o leite em pó? Não tem mais limão! Como fazer a limonada sem limões? De que adianta ter a faca na mão se não se acha o queijo?

Não era a marca que eu costuamava comprar...

E o que era tudo aquilo? Aquele não era o supermercado que conhecia! Era como se ele estivesse vivendo numa realidade alternativa! Um mundo paralelo... De repente, não mais do que de repente, ele entendeu tudo: estava no Mundo Bizarro! Mas ele era o Superman? Ah! Kal-El nunca sairia de chinelos para comprar iogurte de morango...

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