Diário: Andanças

O meu medo é sempre o do atraso, porque é como pôr tudo a perder sem ter tido a chance de fazer algo certo. Faz sentido? Vai ver que foi dessa neura que nasceu minha intolerância com gente que te deixa esperando meia hora, quarenta minutos - ou que às vezes chega mesmo a esquecer do compromisso. Felizmente, depois de intensivo trabalho e inúmeros testes, estou quase totalmente imune ao "desagrado" causado pelos atrasos alheios, mas não pelos meus - embora eu dificilmente me atrase.

Hoje reencontrei uma amiga que não via desde o meio de dezembro. Saudades das nossas conversas e das risadas. Ela contou suas novidades e eu contei as minhas.  O "posso te dizer o que eu acho?", dito e desenvolvido por ela ainda ecoa na minha cabeça, embora não seja caixa vazia. A cabeça e o copo sempre meio cheios.

Encontros importantes pedem medidas urgentes: táxi. Peço para o taxista de bigode: "O senhor pode me levar lá?". Ele aponta para o homem ao seu lado. Ah! Conheço a peça: um senhor japonês muito velhinho que não dirige muito bem. Ok, entro no carro sem delongas e começamos nossa breve viagem com uma conversão proibida - proibição essa por demais justificável.

Desta vez dou sorte, ele está até que bem atento. Murmura uma música bem baixinho - quero saber o que é, mas não consigo entender. Logo chego ao meus destino e desço do carro, porcamente estacionado.

As duas crianças pequenas tomando conta da banca de jornal ao lado do bar ("vocês sabem onde tem ponto de ônibus por aqui?).

Volto de ônibus, muito contente, cronometranto o tempo de volta. Sempre o tempo, mas cansei do psicológico que por vezes me assola. Prefiro me agarrar aos ponteiros do relógio de pulso - ponteiros imaginários, logo que o meu relógio não é analógico, mas o que vale é a metáfora.

O guarda civil compra um gigantesco pedaço de melancia (quase posso vê-lo devorando-o, sentado na guia mesmo). O padre entra na escola (foi ver matrícula para seu filho? Isso não é escola religiosa...). A mulher cheia de sacolas e cheia dos filhos. A imobiliária chamada Ricardo Reis e a rua chamada Alberto Caeiro. O que mais eu poderia querer?

[foi um dia de encontros felizes...]

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Música: Green eyes (Cold Play)

Fato: às vezes eu me esqueço das coisa que gosto e andar por aí é uma delas.

Constatação 1: pior do que almoçar sozinho é jantar sozinho. Me tira o apetite. E não sei o que pensar sobre almoçar com a Angélica. Cansei de almoçar com ela depois de voltar do trabalho aos sábados. Vou tentar algo diferente esse ano.

Constatação 2: não nasci para usar sapatos.

Explicação: para quem diz se focar no tempo cronológico, até que misturei bastante presente a passado, mas tenho certeza de que serão bondosos o suficiente para não comentar.

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